O povo brasileiro vai derrotar a vilania e o golpe
A infâmia e a vilania foram as protagonistas neste domingo (17), na Câmara dos Deputados. Uma sessão para encher de opróbrio os responsáveis da odiosa trama urdida pelo vice-presidente da República, Michel Temer, cuja lembrança vai encher de vergonha os brasileiros por muitas gerações.
Por Socorro Gomes*
Aquele que quer usurpar o mandato conferido à presidenta Dilma pelo voto de 54 milhões de brasileiros passará à história como o homem que usou seu cargo de vice-presidente para tramar e conspirar e, percorrendo o odioso caminho da traição à Constituição que jurou defender, chegar ao poder sem votos, golpeando a democracia e a vontade popular.
Movido por incontrolável ambição, Michel Temer escolheu os golpistas para oferecer seus préstimos como sabujo de uma engrenagem criminosa. O mestre de cerimônia do ato fraudulento, travestido de julgamento de um inexistente crime contra a ordem fiscal, as chamadas pedaladas, foi Eduardo Cunha, réu em processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara e em processo por corrupção na Suprema Corte. Como bobos da corte, figuraram Jovair Arantes e Rogério Rosso. As chamadas pedaladas fiscais sequer foram citadas pelos deputados ao proclamarem seus votos, numa clara demonstração do quanto era desimportante para os “julgadores” o tema de que tratava o relatório em votação.
Para a maioria direitista da Câmara, o que importava era avançar no golpe de Estado contra um governo progressista que tirou da miséria 30 milhões de brasileiros, abriu as portas das Universidades aos filhos dos trabalhadores, levou a luz elétrica para todos os rincões do Brasil. Um governo que manteve uma relação respeitosa com todos os demais países, elevando as relações internacionais do país, colocando o Brasil no rol de nações que ajudam na construção de um mundo de paz, um partícipe da integração latino-americana e caribenha, um protagonista na luta pelas justas causas dos povos e nações que aspiram ao desenvolvimento, à justiça e à paz.
A conjunção de interesses antidemocráticos e antinacionais criou uma maioria na Câmara que desferiu um golpe contra o Estado de Direito, cassando o voto dos brasileiros e anulando o resultado soberano das urnas.
No comando da Casa e da sessão, presidindo o processo de impedimento da presidente da República, esteve aquele que é um dos réus da operação Lava Jato, sobre quem pesam acusações, com provas, de lavagem de dinheiro e recebimento de propinas depositadas em bancos na Suiça. Como assinalou o Advogado Geral da União, José Eduardo Cardozo ao fazer a defesa da presidenta, o presidente da Câmara agiu por vingança ao ter seus interesses contrariados.
Foram deprimentes as cenas da sessão que admitiu o processo de impeachment da presidenta da República. Deputados de caras brancas e lisas num balé da ignomínia mesclavam louvores à família e a Deus com gritos carregados de ódio contra os sem-terra, os sem-teto, contra tudo o que se aproximasse a proteção social aos excluídos, ou a políticas sociais que apontem no sentido de buscar justiça social num país que é apanágio de uma minoria de privilegiados e milhardários.
O golpe de Estado promovido pelas forças da casa grande que nunca aceitaram o avanço do projeto de redenção social e de integração continental, acarreta grave risco para a paz no Brasil e no continente, com repercussões no equilíbrio mundial. Há mais de uma década, o Brasil contribui para o êxito das causas justas da humanidade, a autodeterminação, a cooperação internacional e a paz. Como disse o ex-presidente Lula ao ser interpelado por George W. Bush para apoiar a guerra de agressão ao Iraque, em 2003, “a guerra do Brasil é contra a fome”. Desestabilizar um governo que percorre os caminhos da paz e da justiça no plano internacional é um serviço que os golpistas prestam às potências imperialistas, que estão em plena ofensiva para retomar seus privilégios em toda a América Latina.
O povo organizado não aceitará o governo da vilania e da traição nacional. Os brasileiros não aceitarão um presidente que chegar ao poder através de um golpe de Estado. Michel Temer conhecerá a ira santa dos milhões de brasileiros. O povo lhe dará as costas e saberá defender suas conquistas, a democracia e o Estado de direito. Tendo usado o cargo de vice-presidente da República para conspirar contra o governo de que fazia parte, cobriu da nódoa golpista o próprio mandato, que só adquiriu por ter sido integrante da chapa presidencial encabeçada por Dilma Rousseff em duas eleições. Assim, Michel Temer conspurcou a própria Constituição que jurou defender, razão pelas qual deve ser cassado. A Frente Brasil Popular, os partidos políticos de esquerda e progressistas podem e devem impulsionar uma campanha nesse sentido.
Vai haver ainda mais lutas contra o golpe, pela democracia.
*Socorro Gomes é presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz)